10.1.15

meus amigos de Liverpool.


no meu quarto tenho uma bancada de vidro fixada na parede. e nesta muitas fotos fixadas. da minha família, melhores amigos, coisas e causas que gosto. e volta e meia minha sobrinha me pergunta o nome e procedência daquelas pessoas. ela já sabe: tenho amigos da escola, da faculdade ou da igreja. estabelecemos esse ritual de reconhecimento.
numa parede oposta tenho uma única foto: Ringo, Paul, George e John numa praia com roupas de banho. gosto dessa foto. olho para ela em maus tempos da lida e cantarolo a mim mesma "here comes the sun".
hoje Livinha seguiu seu ritual:

tia quem é essa?
essa é Juli.
é sua amiga da igreja, da escola ou da faculdade?
da faculdade
...

tudo seguia a rotina, já que depois do interrogatório das fotos ela sempre pede papel e lápis de cor para desenhar e depois mostra pela milésima vez como o cabelo tá grande. dessa vez ela quebrou o protocolo. virou para a parede com os meninos de Liverpool e perguntou:

"e esses amigos? são da escola ou da faculdade?"

fiquei em silêncio. sorri. não disse nada a ela. e me dei conta que eram amigos de toda uma vida.
são os amigos que conheci enquanto bisbilhotava os discos do meu pai aos 11 anos e descobri a canção "Michelle". gostei tanto. queria ouvir toda hora.  e amigos depois quando descobri "Yesterday", não sabia o significado das palavras mas achei a coisa mais triste e mais linda do mundo!
amigos de uma vida. eram assim quando minhas amigas de escola e eu cantávamos "Help" em todo karaokê. ou quando morria de dançar "Twist and Shout" junto com Ferris em Curtindo a vida adoidado nas sessões da tarde. e aí Luana me apresentou formalmente aos quatros. gostei de cara do George e do Paul. e teve uma vez numa manifestação de estudantes em Recife que um moço de Nazaré ficou cantando "Yellow Submarinedo meu lado e ri a passeata inteira.
teve o dia da grande desilusão amorosa que o Paul me disse: "hey jude, don't make bad". na na na na na na!! 
amigos de uma vida quando aquele moço (justo aquele que parecia tanto comigo!!) me apresentou o Neil Gaiman e me mandou And I Love Her. e daquela vez que me perdi numa cidade com amigos e ficamos cantando A Hard Day's Night e foi ilário. ou quando Obladi-obladá se tornou a canção de abertura do café com mima. e no casório de um grande amigo onde os noivos confirmaram seu laço com "I want to hold your hand". 
amigos de uma vida quando assisti Acroos the universe e quase desintegrei de afeto ouvindo "Dear Prudence" ou quando eu entrava ano passado na turma do nono ano b da escola em que trabalho e os meninos cantavam o refrão de "Hello, Goodbye" para mim.
todas as vezes Paul, George, Ringo e John estavam lá emprestando suas canções à minha vida, colocando trilha sonora em momentos. algumas canções são tão minhas que estão tatuadas por dentro da pele. é assim com Blackbird, Here Comes Th Sun, Eleanor Rigby, Don't let me down, Come Together e Stranberry Fields Foverer.
a resposta só podia ser uma: esses meninos são meus amigos de Liverpool.


2 !:

Mia Sodré disse...

Esse texto = ♥
Sabe, você traduziu meu sentimento não apenas por Beatles, mas por Queen também. Aquelas bandas que a gente descobre quando ainda é pequena e que nos acompanham pelo resto da vida. É incrível como a música pode ter o poder de nos consolar ou animar ou, até mesmo, acalmar. Lendo seu texto não pude controlar um sorriso bobo que me apareceu no rosto. Que coisa mais fofa! <3333333333333

Allen disse...

Ai, que amorzinho ♥
É muito bom quando a gente encontra pessoas que dialogam com a gente e com a nossa vida, né? Mesmo que elas estejam de longe e nem saibam da nossa existência. Melhor ainda quando esse diálogo se dá através da música.
http://umaallien.blogspot.com.br/

Ailma Barros,
mais de mil perguntas sem resposta, muito prazer!

 
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