30.10.14

Ruby, me ensina a ser corajosa?

Para ler ouvindo Tributoa Martin Luther King, de Wilson Simonal ou I know were I've been, de Hairspray.



Pesquisas comprovam que se eu fosse um personagem de O mágico de Oz seria o leão: enorme e covarde. Morta de medo da vida, encolhida num canto esperando as tempestades passarem. Por essa razão sou uma fã inveterada de moças corajosas. Já falei aqui da agora Prêmio Nobel da Paz, Malala Yousafsai e hoje vim registrar a minha profunda reverência por Ruby Bridges: menina negra, seis anos, residente em Nova Orleans, desejava estudar e tinha um país contra ela.
Ruby desafiou uma sociedade racista e misógina e foi pra escola. Estudou sozinha sem outros seres humanos pois tanto alunos quanto professores se recusaram a frequentar o mesmo prédio que uma criança de cor (apenas um professor se dispôs a ensinar a Ruby).
Sendo o alvo do ódio cego de uma nação que se acha melhor que os outros, a menina parou de ir à escola.
Mas não parou de lutar pelo seu direito de ir à escola.
Depois de meses ganhou na justiça o direito de frequentar novamente a escola e sob xingamentos, ameaças e agressões variadas, a menina voltou e persistiu. Assistia as aulas escoltadas por quatro policiais para preservar sua integridade física. Comeu o pão que a Kukuklan amassou, mas não retrocedeu. E sem perceber se tornou símbolo da luta negra nos EUA em 1960, inspirando inclusive o carismático líder dos direitos civis, Martin Luther King.
Ruby abalou o estado da Lousiana porque queria estudar, incomodou as certezas mais enraizadas dos EUA, abriu fissuras e deixou o caminho aberto para que outras crianças negras tivessem acesso a educação em condições dignas.
A primeira vez que ouvi/li sobre a Ruby foi num livro chamado "Alma Sobrevivente", o autor, Philip Yancey, discorria sobre um cristão que enfrentou seus próprios dilemas para ajudar os outros, Robert Coles, e nos contou como  a vida de Coles foi afetada por Ruby e sua imensa coragem e confiança em Deus:



Philip Yancey falando sobre a experiência de Robert Coles com a menina símbolo dos direitos civis:
"Certo dia, porém, ele teve problemas ao passar pelo distrito industrial de classe pobre de Gentilly. Tropas estaduais haviam interditado as principais estradas em função de um protesto racial. Ele se dirigiu ao centro de toda a comoção, uma escola primária. Ali, a primeira pessoa que viu foi Ruby Bridges, uma pequena menina negra de seis anos de idade. Ruby era a primeira criança negra a freqüentar a Escola Frantz, e todos os alunos estavam boicotando a escola em protesto. Escoltada por agentes federais (as polícias da cidade e do Estado se recusaram a protegê-la), a menina tinha de andar por entre uma multidão de pessoas brancas que gritavam obscenidades e ameaças, balançando os punhos em sua direção. Coles descobriu que ela sofria essas ameaças todos os dias, freqüentando uma escola vazia para se sentar sozinha em sua sala de aula. Enquanto observava aquela criança valente, ocorreu a Coles que ela era um caso ideal para se estudar os efeitos do estresse em crianças pequenas. Levou algum tempo para que ele ganhasse a confiança da família da menina, uma vez que nenhum branco havia entrado em sua casa antes. Ruby, porém, concordou em cooperar. Quando paravam de conversar, Coles pedia que ela fizesse desenhos. Uma coisa impressionante aconteceu nos meses seguintes. O Dr. Robert Coles surgira como um especialista, um pediatra e psiquiatra com todo o prestígio de Harvard, Columbia e da Universidade de Chicago a lhe respaldar. Ele já havia tratado de uma criança negra desprotegida e sem estudo em Nova Orleans. Com o passar do tempo, porém, começou a perceber uma inversão de papéis. Ele era o aluno, não Ruby, e ela estava lecionando um curso avançado de ética. À noite, Coles discutia com sua esposa, Jane, como ele reagiria em circunstâncias semelhantes. E se um grupo de homens e mulheres irados se alinhasse em frente ao Clube de Harvard para bloquear a entrada? O que ele faria? Chamaria a polícia, naturalmente. Mas em Nova Orleans, os agentes federais entraram em cena porque a polícia não estava do lado de Ruby, e ele se lembrou da conversa que ouvira daqueles dois policiais na base aérea. Ele chamaria seu advogado e conseguiria um mandado. A família de Ruby não conhecia advogado algum e não podia pagar por um. Por último, ele se levantaria diante da multidão, explican-do seu comportamento numa linguagem de psicopatologia e, talvez, até mesmo escreveria um condescendente artigo sobre eles. Ruby não conhecia tais palavras: ela estava simplesmente aprendendo a ler e escrever. Então, o que fez Ruby Bridges em circunstâncias tão atemorizantes? Ela orou. Por ela mesma, para que fosse forte e não tivesse medo, e também por seus inimigos, para que Deus os perdoasse. "Jesus orou por isso na cruz", disse ela a Coles, como se isto encerrasse o assunto. "Perdoai-os, porque não sabem o que fazem."
(Trecho de Alma Sobrevivente)

 Norman Rockwell Museum, Stockbridge, Massachusetts.
Ruby apareceu na minha vida como uma coadjuvante em história alheia. O texto veio me falar de Robert Cole, mas quem tocou fogo no meu coração foi a pequena corajosa de Nova Orleans. Dr. Coles afirma que encontrar Ruby mudou a vida dele, como pessoa e como cristão. Suspeito que esse é mesmo o efeito. Confiança em Deus produz coragem. E ela era um exemplo ambulante de seis anos.
Esta menina é marcante pois me recorda que os direitos inerentes a dignidade humana, precisam ser tomados a força e na luta (desobediência civil neles!) por alguns grupos minoritários e historicamente explorados. Ou como perfeitamente aponta Dr. King: “sabemos por meio de experiências dolorosas que a liberdade nunca é voluntariamente concedida pelo opressor; ela tem de ser exigida pelo oprimido.”
Ser mulher, negra, de uma região menos desenvolvida economicamente e pobre continua sendo difícil no século XXI, mas a luta continua.
Ruby, me ensina a descansar em Deus e ser corajosa.
  
Ah, e claro tem um vídeo : Ruby Bridges 

2 !:

Mia Sodré disse...

Apenas uma coisa: preciso conhecer melhor essa história. Fiquei tocada com isso.

Anônimo disse...

Já tinha lido alguns resumos sobre a história dessa garotinha e me apaixonei por ela e pelos pais que ajudaram nisso tudo. *u*

Ailma Barros,
mais de mil perguntas sem resposta, muito prazer!

 
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