"Você está armando uma de suas campanhas?", disse Milla, súbita e astuciosamente. "Você sabe, Elfinha, quando você não voltou da Cidade das Esmeraldas com Glinda aquela vez, todo mundo disse que você tinha enlouquecido, e se tinha se tornado uma assassina".
"As pessoas sempre gostaram de falar, não é mesmo? É por isso que chamo a mim mesma de bruxa agora: a Maléfica Bruxa do Oeste, se quiserem o nome em sua completa glória. Já que as pessoas vão me chamar de lunática de um modo ou de outro, porque não tirar alguma vantagem? Isso liberta a gente de convenções."
"Você não é maléfica", disse Boq.
"Como você sabe? Tanto tempo passou", disse a Bruxa, mas sorriu para ele.
Boq retribuiu o sorriso calorosamente. "Glinda usava seus colares cintilantes, e você seus modos e conteúdos exóticos, mas vocês não estavam apenas fazendo a mesma coisa, tentando maximizar o que tinham a fim de conseguir o que queriam? Pessoas que afirmam que são más não são habitualmente piores que o resto de nós." Ele suspirou. "É com gente que afirma ser boa, ou, de qualquer modo, melhor que o resto de nós, que você deve se acautelar".
"Alguém como Nessarose ou o Mágico"disse Mila.
p. 367,
Você conhece a história. Se passa
na terra de Oz. Temos um grande mágico que governa Oz aparentando ter muito
poder mas sendo embuste. Temos uma bruxa verde conhecida como a Maléfica Bruxa
do Oeste. Ah e tem a Dorothy!
É incrível como uma mesma situação
pode ter muitas interpretações. Tudo depende de quem narra e sob qual ponto de
vista a história é contada. O Gregory Maguire foi brilhante nisso, usando a famosa
história “O Mágico de Oz” de Frank Baum, mudando as peças do jogo e nos mostrando uma nova heroínra, fazendo valer o princípio que toda história tem dois lados.
Maguire nos conta sobre a Terra
de Oz, dividida em grandes regiões, um norte rico, um sul pobre, regiões
oprimidas e um grande líder que gerencia Oz com mãos de ferro: o mágico. Ele
nos apresenta ainda uma família aparentemente comum que teve o azar de ser
presenteado com uma maldição da natureza: uma criança verde e de dente afiados.
Seu nome: Elphaba.
O livro? Maligna. Para todos os
que amam ou odeiam o Mágico de Oz.
A história é a visão da Elphaba
sobre o mundo, sua relação com a irmã Nessarose, com os pais, uma mãe altamente
leviana e um pai altamente religioso e bitolado e uma inconformidade imensa com
as injustiças que haviam ao seu redor. Elphaba, a verde, era uma menina
revolucionária, que não aceitava os erros institucionalizados que havia em sua
terra. Uma menina libertária que lutava pelo direito dos animais falantes e de
todos os grupos oprimidos pela mão de ferro do mago da Cidade das Esmeraldas.
Ao longo do livro, o Maguire nos
mostra essa moça, entrando na universidade e estranhamente se tornando amiga de
uma patricinha do norte chamada Glinda: uma popular, a outra introvertida; uma
fútil, a outra comprometida com questões sociais. As duas se graduam em magia.
Uma assume o status quo reservado há muito, a outra entra na clandestinidade
para derrubar o tirano mago de Oz. A amizade da Glinda e a Elfinha é um dos grandes trunfos do livro e da peça. A Glinda tenta a todo custo tentar tornar a Elphaba menos nerd e mais popular e bonita e a outra tenta convencer a loira a se preocupar com questões sociais. Não dá certo de lado nenhum. Mas apesar do abismo entre elas, surge e se mantêm uma amizade bem bacana.
Nesse meio tempo acontecem
profecias sobre a Terra de Oz, sobre o fim do reinado do mago, sobre a chegada
de uma menina que a tudo libertaria. E a Elphaba sem notar vai vendo sua vida
entrelaçada a menina, e a um leão covarde, a um homem de lata e a um
espantalho. E ela tenta ajuda-los a todo custo.
Elphaba vai vivendo seus anseios
e complexos, vai se apaixonando cada vez mais pela luta dos direitos civis, vai
se apaixonando pelo rapaz inacessível, vai nos encantando com suas reflexões. A
Elphaba vai sofrendo represálias e uma enxurrada de propaganda política contrária
a sua atuação social. O mago passa a jogar as pessoas contra ela, a insinuar
que ela é má. E acostumada a uma vida de preconceitos, pois todos têm medo,
receio ou nojo da menina verde, ela esse lugar de maléfica bruxa do leste. E se
sente muito só, apesar de poderosa na ótica das pessoas. As pessoas a temem e a
ouvem, mas não a querem por perto.
E assim todas as atitudes da moça
verde vão sendo distorcidas. E tudo o que ela deseja é liberdade, tolerância. É
viver num lugar mais justo. É ser vista além da pele verde.
Eu me identifico horrores com a
Elphaba, a inteligência dela é estimulante, a paixão dela por ideais de um
mundo melhor é tocante, o cuidado dela com as pessoas que ela gosta é comovente
e a solidão, é a que volta e meia, encontro em mim mesma. Essa estranha
sensação de que o mundo não foi feito pra gente.
O livro foi parar na Broadway em um musical épico - que é um sonho meu ver um
dia ao vivo e a cores, com a Idina Menzel e a Kristen Chenoweth (precisa ser
com elas, só vale se for com elas) - chamado Wicked. A peça é linda. As canções são
fabulosíssimas. E não por acaso algumas são para mim como aquelas canções de
guerra eram para os soldados em batalhas épicas: fundamentais, oxigenantes. Há
canções minhas. Há sentimentos tão meus nessa história! Ouçam algumas canções e
sintam o espírito da Elphaba. As minhas favoritas são: Defying Gravity, ForGood e I’m Not That Girl.
Wicked me fala me aceitação, de
ver além das aparências, me diz que decisões são afetadas por circunstâncias e
me lembra que não há mágica nos sapatinhos, eles são só objetos, a mágica está
nas pessoas e na sua capacidade de voar.
E sim, uma história sempre tem
outro ponto de vista. Obrigada Gregory Maguire.
P.s: dá pra ter uma noção vendo a peça aqui.
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