30.3.14

August* is me.


Sempre me considerei uma pessoa observadora. Uma observer vindo do futuro para registrar a dinâmica dos comportamentos e relacionamentos humanos. Sou boa em observar porque passo despercebida nos lugares. Ninguém me nota e eu registro tudo. O que implica dizer que fico muito incomodada quando sei que fui observada. Me angustia pensar que fui alvo de olhares e pensamentos ou que pessoas trocam informações sobre a minha vida tão apagada.
Odeio chamar atenção. Não sei lidar com isso. Sempre que alguém divide uma observação sobre mim comigo fico desconcertada o resto do dia. Repasso mil vezes cada palavra dita, pondero inclusive no tom que foi falado, a expressão da pessoa. Sei que isso é loucura. Cada um de nós tem a neurose que pode suportar e a minha é ter o mesmo Código de Ética dos Observers de Fringe: registre tudo, não chame atenção, não interfira na vida das pessoas. 
Há uns dias atrás fui surpreendida com um dossiê de minhas posturas e ações. Discordei das conclusões (tudo a luz da condescendência que tenho de mim mesma), fiquei ressentida, chateada e planejando me trancar no meu quarto até 2045.
Algumas pessoas nasceram para o palco, outras para o backstage. Eu com certeza faço parte do último. É tanto que uma das minhas canções favoritas é Mr. Cellophane, porque sou meio boba e invisível como ele. Na Chicago da vida há Roxies, Velmas e Amos como eu. Podem acreditar no que digo: a invisibilidade por vezes é uma benção.





*Um observer da Série Fringe que se torna personagem de um episódio 
e se torna observado em vez de observador.

Ailma Barros,
mais de mil perguntas sem resposta, muito prazer!

 
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