10.4.14

e o sonho Mané?


Meu caro Rui Ribeiro Couto, a mocidade
Promete mais que dá. Sonhamos se dormimos,
E sonhamos quando acordados, Altos cimos
Da aspiração, que em torno vê só a intensidade!
Assim, amigo, foi você; assim eu fui.
Mas terminada a mocidade, o sonho rui?
Não, não rui. Pois o sonho, amigo, não é cousa
Feita de pedra e cal: o sonho é cousa fluida.
Enquanto dura a mocidade, que não cuida
Senão de se gastar, nem para, nem repousa,
Vai de despenhadeiro a outro despenhadeiro.
Mas com o tempo serena e flui como um ribeiro.

Um dias as ilusões de Vitorino Glória
Se terão dissipado. Em cada nervo e músculo
Sentirá ele, na doçura do crepúsculo,
O que houve de melhor na sua louca história.
Apaziguado há de sorrir ao sonho roto,
E encontrará, dentro em si mesmo, o pouso, o couto

Manuel Bandeira.

Ailma Barros,
mais de mil perguntas sem resposta, muito prazer!

 
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