25.2.14

Baruque que me habita


Na minha experiência cristã de leitura bíblica, volta e meia me deparo com algo que já sabia e que naquele momento me acerta em cheio. Isso é quase uma rotina pra mim: uma leitura atenta e Deus me diz coisas novas ou relembra coisas importantes. E aí, lendo Jeremias (sofrimento, dor, rejeição, solidão) e aprendendo que a vida cristã não é necessariamente feita de aplausos terrenos, me deparei com o capítulo 45 do livro. Recebi um soco no estômago. Estou sem fôlego. Porque? Por causa de um figurante que de repente teve os holofotes sobre si: Baruque, filho de Nerias. Como me identifiquei com as indagações e a postura diante das coisas!
Baruque, de linhagem nobre, foi talvez a única pessoa que acreditou na palavra que o Senhor deu a Jeremias; um jovem revolucionário ao lado do profeta desacreditado; alguém que viu os momentos em que Jeremias foi ridicularizado e rejeitado por falar a verdade e ficou desse lado aparentemente mais fraco. O fato é que as profecias que Deus falou através de Jeremias se cumpriram. E o cenário foi de morte, guerras e assolações, mais revolta contra Deus, mais ódio contra Jeremias.
A questão é que Baruque era nobre e tinha ouvido todas as histórias sobre os feitos maravilhosos de Deus. Baruque leu sobre a mão forte de Deus exaltando os humildes e os tornando grandes líderes. Baruque provavelmente conhecia a trajetória de Eliseu que servia a Elias (outro profeta com um fardo tão grande quanto o de Jeremias) e talvez sonhasse que a história se repetisse. No caso de Eliseu, a porção de poder que vivia em Elias foi dobrada sobre ele. Era natural e legítimo que Baruque esperasse que Deus repetisse história e o tornasse tão notável quanto Eliseu afinal ele foi fiel a Jeremias e a Deus como amigo e secretário.
A questão é que Deus não repete histórias, Ele têm trajetórias únicas para todas as pessoas que já passaram por este mundo. E no capítulo 45 Baruque tem seu momento de protagonista, e pergunta ao Senhor. E Deus na sua misericórdia responde: "E procuras tu grandeza? Não a procures porque trarei mal sobre toda carne, a ti porém te darei a vida como despojo em todo lugar por onde fores"
Isso é o que eu chamo de cuidado.
Baruque tinha um desejo eminentemente humano de grandeza, mas Deus que é onisciente sabia que ele não precisava ser grande e sim ter uma vida plena. Talvez Baruque não entendesse que a grandeza de Eliseu estava no fato de que ele servia aos outros; só para isso serve o poder, caso contrário apodrecemos.
Nem sempre a grandeza gera vida, as vezes ela traz complexos, acessos de loucura, tristezas, desconfianças. Mas a vida é o melhor presente que podemos receber. E no caso de Baruque era uma coisa tão rara. Naquela época todos estavam morrendo ou sendo subjugados pelo poderoso exército de Nabucodonosor,  nem os grandes resistiram a ira do imperador. Não são as grandezas que nos garantem uma vida plena é a presença de Deus.
Meu coração me consola ao olhar pra experiência de Baruque e diz a minha alma que  reconhecimento, títulos e medalhas são passageiros e se perdem, comunhão com Deus é que nos garantem vida. E vida em abundância.

1 !:

Luís Monteiro disse...

Teu texto foi incrivelmente bonito e reflexivo. Além de muito verdadeiro.

Faz todo sentido, mas vale uma vida plena.
Boa noite, bjos.

Ailma Barros,
mais de mil perguntas sem resposta, muito prazer!

 
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