9.8.13

Elefante

Existem coisas na vida que são angustiantes em si mesmas. Assisti um filme sobre a tragédia de Columbine é uma delas. O filme dirigido por Gus Van Sant (diretor de Gênio Indomável) não é ruim, muito pelo contrário! Há várias características que amo em películas reunidas aqui: a história de várias pessoas se cruzando, a câmera posicionada como se fosse parte da cena focando não no todo, mas "seguindo" o olhar dos personagens (amo esse trabalho de câmera!), dando a sensação de que estamos na pele, na percepção, na sombra dos moços da história. Outra coisa bem legal é que a mesma cena as vezes é apresentada sob o ponto de vista de todos os envolvidos, e vamos vendo como eles vêem. É uma sensação que as vezes só temos nos livros e na vida real, claro.



As críticas que li sobre o filme em geral o classificam como ruim, entretanto as sensações que ele provocou em mim são mais importante que a falta de um diálogo reinante ou a crítica (muito justa) sobre a insinuação que o diretor faz sobre uma suposta relação homoafetiva entre Eric e Dilan. Sim, o filme é parado. É mais movimento, cor, percepção, contemplação. Pra mim é lindo. E triste. Me apeguei aos personagens, especialmente ao Elias e a Michelle.
As pessoas vão sendo apresentadas e acompanhamos o fluxo de suas vidas nas horas anteriores a uma das tragédias que mais marcou os EUA. Para os personagens, esse é um dia absolutamente normal, tendo suas conversas fúteis, preocupações bobas e a não admitida ilusão de eternidade. A gente sabe que em algum momento toda aquela calma será destruída, Eric e Dilan (no filme chamado Jared) vão entrar metralhando tudo. Aí como eu não via todo o cenário e sim apenas a percepção do personagem, ficava a toda hora esperando que uma virada de corredor fosse o fim. Pense numa agonia. Eu ficava o tempo inteiro dizendo em voz alta: aproveitem o dia, deixem de bobagem, é o último de vocês! A questão e parte da graça do filme é que os personagens não tinha o conhecimento que eu tinha. Nunca isso tinha me afetado tanto, vai ver que é porque esse filme retrata uma situação que aconteceu.
Esse é o insigth do filme: a gente não tem o menor controle sobre nossas vidas, a gente não sabe quando o fim vai chegar; e talvez por isso, vamos vivendo no automático, fazendo por fazer e vez por outra vem aquele gosto amargo na boca do "será que vivi?". 


Quando o filme foca em Eric e Jared (Dilan), já na metade o efeito pelo menos pra mim foi hipnotizante. Sinais vão sendo dados do que eles planejam em meio a uma pretensa "normalidade". Quando eles compram as armas e as experimentam tendo como soundtrack um programa sobre a construção do Terceiro Reich por Hitler o coração acelera. Quando Jared descreve como será o ataque (aquela tranquilidade do Jared é pertubadora, dá um arrepio na gente! Alex Frost arrasou na interpretação) dói fisicamente. Quando eles dirigem rumo a escola e caminham até o prédio reina um silêncio que só é quebrado pela respiração perfeita dos dois e aí eu me dei conta: meu Deus isso aconteceu de verdade!


Columbine é um triste exemplo da fragilidade humana: você é saudável, leva uma vida pacífica, paga suas contas, tem a promessa de um futuro estável e num belo dia você cruza num corredor com um Eric ou um Dilan e recebe um  tiro de metralhadora no rosto, sem tempo pra fuga ou defesa, sem possibilidade de refletir sobre a vida. Pá. Game over. E você nem percebeu.
Elefante é lindo (esteticamente falando, especialmente se você gosta desses filmes indepentes como eu), não convencional, minimalista e toca precisamente em um ponto muito dolorido de nossa existência: o tamanho da nossa fragilidade e da nossa loucura.



Ailma Barros,
mais de mil perguntas sem resposta, muito prazer!

 
cata nuvens © Todos os direitos reservados | Ilustração :: Monoco | voltar para o topo