7.7.11

Me livra de ser grande


Ontem sonhei que tinha não cinco mas oito anos. A melhor idade de minha vida. Quando eu corria na rua com os vizinhos e não era anti-social, quando eu gostava de assistir TV mas já detestava as novelas da Globo, quando eu dividia o quarto com minha irmã e sonhava com o dia em que teria um quarto só pra mim. Os oito anos em que ganhei minha primeira coleção de livros (que ainda tenho!). Os oito ans em que estudava numa escola bem pequena, com livros semi-novos, poucos colegas na sala e com passeios pras chácaras onde ficávamos o dia inteiro dentro da piscina. Os oito anos em que eu sonhava em lavar pratos e apanhava de minha irmã mais velha e me cortava o todo dia em uma cerca, um caco de vidro ou numa queda. Os oito anos quando eu era inteligente e sabia matemática e a vida era cheia de parques, sorvetes e domingos na casa da avó.
Com oito anos eu não me preocupava com o futuro, só com aquele dia e com as tarefas da escola pro dia seguinte. Com oito anos que gostava de ser menina e adorava ir ao dentista. Com oito anos a família parecia maior, mas barulhetnta e mais presente. Com oito anos eu adorva acordar cedi nos domingos para ir a Escola Dominical, e passava tardes andando de bicicleta sem ligar pras horas. Com oito anos eu gostava de fanta e biscoito recheado (arg!). 
Com oito anos eu ficava acordada com minha irmã morrendo de rir do nada numa felicidade besta, própria de criança, enquanto mãe gritava do quarto dela que devíamos dormir porque alegria de pobre sempre terminava em choro. Com oito anos eu não me preocupava com  o cabelo. Fazia uma trança e pronto. Com oito anos eu ficava feliz quando faltava energia no bairro pois no meio da escuridão a gurizada toda se reunia na esquina pra ouvir as histórias de meu pai. Com oito anos eu adorava quando chegava janeiro e a gente ia colher umbu no pé, e tia fazia uma umbuzada deliciosa, mas antes havíamos comido tanto umbu que não havia mais esmalte nos dentes. Com oito anos eu vestia roupas parecidas com a da minha irmã e tinha vestidos de todas as cores.
Com oito anos eu não conhecia as dores do mundo. Só as sutilezas e bunitezas.  a delizadeza de uma pipa no céu. E a alegria de ganhar no sete caco. A certeza de que suas companheiras de bicicleta seriam suas amigas pra sempre... Com oito anos eu queria voar. E a vida era perfeita.

2 !:

Gizelle disse...

Assim choro de tanto sentimento...
lindas palavras meu bem =]

LUCI ALVES disse...

...a vida era perfeita.
verdade, Mima. Verdade!
:)

Ailma Barros,
mais de mil perguntas sem resposta, muito prazer!

 
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