16.2.11

Ato 1.


Primeiro ela se convenceu que tinha que pintar o cabelo de azul, assim o vazio diminuia. Depois se formou em medicina, engenharia de automação, moda e gastronomia. Depois assistiu todas as novelas da tv, e foi aquele show sensacional. Aí comprou um sapato verde, um vermelho, um de oncinha e um casaco de peles que nunca vai usar. Ela também foi ao restaurante mais badalado. Viu aquele filme bem tristinho e chorou bastante. Ficou aliviada! Mas dois minutos e o vazio voltou. Ela viajou pro Nepal, participou de um clip da Madona e tirou uma foto com a rainha da Inglaterra. Um dia ela se apaixonou, enlouqueceu e achou que não sentiria o vazio nunca mais. O vazio era tão silencioso. Obrigava ela a ficar consigo mesma. Por isso ela odiava o silêncio. Ele ampliava o vazio. E isso a assustava, mesmo estando acostumada. Quanto mais ela se enchia de coisas mais vazio ela sentia. O vazio se espalhava por ela e ia deixando tudo invisível. Primeiro pele, ossos, cabelo. Depois veias, artérias, cérebro, coração. E quando a gente olhava para o lugar em que ela estava não via nada, senão um enorme vazio.

1 !:

Gizelle disse...

Tão profundo meu bem...e lindo tbm.

Ailma Barros,
mais de mil perguntas sem resposta, muito prazer!

 
cata nuvens © Todos os direitos reservados | Ilustração :: Monoco | voltar para o topo