19.10.14

nota sobre meninos e bicicletas


Hoje encontrei um menino e uma bicicleta. Fiquei olhando para eles. Eu gosto de meninos e bicicletas. Eram 13 horas, reinava um calor absoluto e sufocante. Não havia alma viva na rua. Apenas o menino e a bicicleta na calçada.
Devia ter uns seis ou sete anos. Devia ter um nome estrangeirado. Devia. Devia. Devia. Muitas hipóteses e apenas uma certeza: ele quase não sabia andar de bicicleta e mesmo assim insistia. Só andava bem em linha reta.
Bateu numa parede dezesseis vezes segundo a minha contagem. A cada curva, por menor que fosse, caía. Ele caiu muito. Ele tombou contra a parede muitas vezes. E levantou de novo, aprumou o guidom e recomeçou. Fiquei pensando: "porque raios esse menino não desiste?!" A resposta era simples: ele queria andar de bicicleta. Aquela bicicleta não era dele, vim descobrir depois. Era preciso aproveitar o momento, mesmo com as quedas e os tombos na parede. Por alguns minutos o guidom foi dele para fazer o que quisesse. E posso dizer pois vi, ele devolveu a bicicleta meio machucado, suado, mas com um sorriso rasgado no rosto. Ele fez o que queria né?! E sem perceber me fez pensar.
Pensar que penso demais e por me preocupar com os prováveis tombos e quedas perco os incríveis momentos de controlar o guidom com uma mão só e sentir o vento no rosto. Eu não posso ter medo da bicicleta. Eu não posso ter medo da vida. 

2 !:

Nina disse...

Estou fazendo um curso e, se teve algo que aprendi, foi: "desistir é muito fácil, uma das coisas mais fáceis do mundo". Ainda bem que eu quero um caminho difícil, onde o esforço seja a palavra de ordem.
Abraços.

Hilza de Oliveira disse...

Às vezes precisamos ser insistentes e teimosos como um menino e assim controlar nosso próprio guidom.

Ailma Barros,
mais de mil perguntas sem resposta, muito prazer!

 
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