23.6.14

e se o sal for insípido?

Ou ainda sobre a identidade cristã..



Eu estava ouvindo o sermão do Pr. Antonio Carlos Costa numa conferência da Missão na Íntegra e me senti representada. Como faz sentido o sermão! Pois antes do sermão a vida deste homem fazia sentido, era coerente com o evangelho. Um fantástico exemplo de cristão que quero ser: lúcido com relação ao papel da igreja no mundo indignado contra as violações dos direitos humanos e inquieto contra o sistema mundano e suas relações de poder e opressão. A militância dele no Rio de Janeiro para denunciar os crimes contra as pessoas pobres (na sua maioria faveladas) é um exemplo de igreja que não se cala. Ele sai do conforto da igreja e se envolve em diversas manifestações denunciando o abuso do Estado contra a vida das pessoas. Quem não lembra da manifestação onde 700 cruzes foram cravadas na praia de Copacabana em lembrança dos assassinados no primeiro semestre de 2007? Ele esteve a frente de todo o processo. É um modelo de prática do amor cristão. Alguém que se mexe pra "transformar segundo a renovação do entendimento". E vai vivendo até o limite o conselho de Paulo de "não se conformar com este mundo".
Segundo ele devemos viver a antropologia bíblica: olhar o outro como alguém que merece amor pois foi criado à imagem e semelhança de Deus e levar o padrão de santidade considerando pecado a omissão frente aos crimes sociais.
Ele me lembrou o Luther King e também o C.S. Lewis quando dizem que todos os seres humanos são imagens e semelhanças de Deus.
Uma igreja alienada à realidade social no Brasil não está cumprindo a ordem de ser sal na terra. A indiferença deve ser aniquilada dentro das igrejas, afinal foi o Cristianismo quem propôs as mudanças sociais mais profundas. Foram os cristãos protestantes os primeiros a denunciar a escravidão como um crime. Precisamos ter o sentimento da Igreja Moraviana. 
Mas a igreja infelizmente se acomodou aos templos e não clama contra os crimes e injustiças sociais. O sal ficou meio insípido. Achar normal os números assustadores de opressão nesse país definem claramente que a pessoa não entendeu nada do que Cristo disse ou fez.
E Deus tanto falou na Bíblia que devemos cuidar do órfão, do estrangeiro e da viúva. Há uma preocupação no céu pelos oprimidos. Porque a preocupação de Deus não se reflete naquele que levam seu nome?
Graças a Deus que surgem "joãos" como o Pr. Antonio Costa, clamando contra "herodes" sobre seus crimes. Deus mostra ao mundo Sua graça através de quem luta contra a opressão e a corrupção.
A igreja frequentemente tem assumido uma postura e uma preocupação legalista e se calado para coisas importantes, como o genocídio e o limpeza social de os pobres são vítimas nas cidades. Ser legalista e meritocrático é muito fácil e nem é preciso ser cristão.
É fácil ser religioso.
Cristo nos chamou para algo mais profundo. Ele propôs mudança na estrutura de nosso caráter e das instituições sociais. Em uma sociedade machista e misógina, Jesus era amigo e dava destaque a mulheres, se importava com crianças, se indignava com opressões. O chamado de Jesus é desafiante: olhar para as pessoas e vê alguém a quem Deus amou. E amá-la. E respeitá-la na sua alteridade. Deveríamos ser os humanos mais coerente e éticos sobre a terra pois Cristo foi. O Cristianismo diz que TODOS são dignos de amor. TODOS foram amados pelos céus. Ou diria C.S.Lewis a cultura e a civilização passarão, mas Deus plantou no homem a eternidade e quando olhamos pro outro vemos a eternidade, sem dúvida há tanta importância nisso. O amor é ação. Todos fomos amados. Os refugiados que são tratados como lixo no mundo foram amados. As mulheres oprimidas. Os presos. As crianças escravizadas. Os sem-tetos. Todos fomos amados. Será que como igreja temos vivido o amor ou somente divagado sobre ele?
Ou como maravilhosamente canta Fruto Sagrado:

"Pra fazer diferença, não basta ser diferente
de que modo mudo a história
com discurso ou com ação?
Pra falar de amor eu tenho que aprender a repartir o pão
chorar com os que choram
me alegrar com o que cantam
se não ninguém vai me ouvir.
O que na verdade somos,
o que você vê quando me vê
pra serve a luz que não acende, não ilumina a escuridão?"

Ailma Barros,
mais de mil perguntas sem resposta, muito prazer!

 
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