14.1.14

esses meninos que me fazem chorar



Em duas horas li "Perdão Leornad Peacock" do Matthew Quick, confesso não esperava muita coisa. Tenho um preconceito claro contra o autor. Mas o título e minha doença me colocaram diante de suas páginas e por 120 minutos me envolvi completamente na min-tragédia trágica de Leonard. Chorei com ele. Ou talvez tenha sido simplesmente com a mística que adoro: adolescentes questionando a vida e não encontrando muito sentido nas coisas. O livro já prenuncia o fim: Leonard vai cometer suicídio depois que assassinar seu ex-melhor amigo Asher. Sabemos disso num primeiro momento; ele vai fazer isso com uma P-38, uma antiga arma nazista que tinhas suas próprias histórias para contar, entretanto antes disso ele precisa presentear quatro pessoas que são importantes pra ele. Ahh e tudo isso bem no dia do aniversário de 18 anos. A partir daí, Leonard vai nos falando sobre os ganhadores de presentes. Eu de cara me apaixono pelo Walt, um velhinho viciado em nicotina que acaba transformando o Leo num apaixonado pelo Humphrey Bogart com diálogos maravilhosos parafraseados dos filmes do ator como por exemplo: "Eu acho que esse é o começo de uma bela amizade, Louis" (Toca aí As Time Goes By, Sam! ...) e depois aparecem mil outros personagens que nos fazem compreender a enormidade da decisão homicida-suicida do Leo. E pra mim é tão intimamente pessoal que chega a ser verdadeiro. Não consigo deixar de pensar nas crianças que conseguiram fazer o mesmo na vida real (inclusive no livro o personagem cita o Eric e o Dilan de Columbine). Na vida do Leo temos um tocador de violino iraniano, um professor do holocausto, uma menina cristã que prega perto do metrô. Pessoas que tornam a vida dele mais suportável, entretanto pessoas que não o compreendiam de todo. 
O Leo faz uma perguntas muito existenciais, segue pessoas infelizes para saber que vale a pena investir no futuro, não tem amigos, admira profundamente um professor e é extremamente cativante no seu niilismo com relação a vida. Ou será que sou apenas eu que gosto desse arquétipo?
Talvez seja eu.

Enquanto lia o livro imaginei o Leo sendo o ator Logan Lerman, que foi o Charlie de As vantagens de ser invisível mesmo não parecendo em nada com a descrição do personagem, sei lá, vai ver que o Logan arrasou para mim sendo Charlie. Foi convincente.
O fato é que gosto desse tipo de personagem que apesar da idade e da aparente frivolidade esconde feridas profundas, as vezes feridas narcísicas como meu favorito Holden de O apanhador no campo de centeio ou feridas mais profundas ainda como é o caso do Charlie e do Leonard.
Famílias desajustadas, uma maturidade ou um espírito cínico muito além da própria idade; um inconformismo e uma relação de pouca paciência com os demais adolescentes cretinos (salve Holden) com os quais convivem: todas essas características são a preciosidade desses personagens e são atemporais pois eles tanto servem em personagens dos anos 50 como Holden quanto os do século XXI como Leonard.  E sabe porque meus amigos? Porque a existência com sua necessidade de sentido e significado impera sobre todos, inclusive e muitas vezes mais cruelmente em adolescentes com uma capacidade de refletir um pouco mais. A nulidade da vida volta e meia bate na porta de todos, alguns fingem ignorá-la, ou se apegam a ela, outros a enfrentam. O fato é que esses adolescentes nos fazem ver um pouquinho mais fundo como isso funciona e nos fazem questionar (ou pelo menos me fazem questionar) porque vale a pena viver.

Conheçam Leonard Peacock, ele vale a pena!

(assim como o Charlie e o Holden!)

Ailma Barros,
mais de mil perguntas sem resposta, muito prazer!

 
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