9.12.13

todo dia ela faz tudo sempre igual


É maio. O café esfria na xícara. O calor irradia por todos os lados, as vezes se sente presa em um filme como Onde os fracos não tem vez sem Javier Barden matando pessoas. Um gato mia no muro. Na casa ao lado mais uma briga de marido e mulher. "Ah! Essas paredes finas!" Será que seus vizinhos ouvem suas lágrimas também? Sai de casa. O céu insultantemente azul, mas cadê as nuvens. Calor. Nenhum sinal ou esperança de chuva. "Era disso que você fugia Severino? Da tristeza sem chuva?" (Silêncio). A sapatilha nova está apertando os pés, por mais bonita que seja - como o amor - deixará calos, que ela vai estourar e virará ferida doendo por dias e a impedindo de usar outros sapatos. No ônibus muitos estranhos, como sempre; gente sem rosto e com compromisso, sempre atrasados. Ninguém está ouvindo música alta. Ainda bem! Uma mulher ensina a outra um remédio infalível para um mioma. Crianças querem ir na janela. Quando acordou essa manhã ela cortou o cabelo e está torto. Como se não bastasse não sabe passar blush. E está gripada. O cobrador é bonitinho. Ela ri ao pensar na sua vida afetiva nula. É realmente bom ou ruim não ter em quem pensar? "Suspiros são realmnete necessários na vida?" Fecha a janela, pois o vento está bagunçando seu cabelo torto. A gripe está muito forte. Queria mesmo era ficar em casa assistindo O labirinto do fauno e chorando por Ofélia. Lombada. Semáforo. Senta ao seu lado uma menina com um all star lindo. Acidente no caminho. Carro contra moto, morte e uma perna quebrada. Sobem no ônibus universitários. Ela lembra que há uns meses era um deles.
 Parece que foi há tanto tempo. Tosse. Tenta ler Mia Couto. O balanço do ônibus a embala.
 Dorme, baba, talvez passe do ponto. Sonha com Nánia.

Ailma Barros,
mais de mil perguntas sem resposta, muito prazer!

 
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