30.9.13

não acomodar o que incomoda

Algumas pessoas insistem em me perguntar porque sou feminista.


Semana passada eu estava em um encontro de mulheres sociopolíticas rurais aqui de Pernambuco. Nesse encontro discutíamos a situação da mulher pernambucana, especialmente a do campo que é a que aparece nas estatísticas como a que mais sofre toda espécie de violação de direitos. Esses encontros são importantes porque me lembram da razão da minha militância, me lembram do porque o feminismo encontrou eco em mim, me lembram que essa é uma luta contra paradigmas milenares que oprimem as mulheres e as super-oprimem se elas são negras e pobres e da zona rural.
Diante de tantas histórias de empoderamento da mulher pernambucana e da luta da secretaria da mulher e da sociedade civil organizada para diminuir os índices (altíssimos aqui em PE) de violência contra a mulher, me vi numa situação completamente nova que me destruiu e me construiu de novo e me levou às lágrimas e me fez pensar que tenho feito muito pouco enquanto feminista, enquanto cristã e enquanto gente. Que situação foi essa? A exibição de um vídeo e a fala da situação das mulheres mandiocultoras da Bacia do Goitá aqui em Pernambuco. (eu não gosto muito de vídeo em blog, mas gastem 20 minutos do seu tempo vendo essas mulheres!):



A situação de minhas irmãs negras e mulheres do Goitá têm me indignado e incomodado profundamente. Talvez seja porque é tão perto. Talvez seja porque derruba a falsa idéia de que o Brasil enfim alcançou uma distribuição de renda igualitária. Talvez seja porque revele o tamanho da crueldade do machismo que coisifica crianças e mulheres. Talvez seja porque elas merecem um salário e um emprego decente. Talvez seja porque já é século XXI, mas elas estão acorrentadas a práticas e idéias do século XIV.
As mulheres do Goitá revelam o tamanho da fragilidade da nossa condição feminina. Revela  a necessidade que nós temos de lutar por um empoderamento econômico e político delas. Revelam que o meu estado e a sociedade civil são negligentes numa circunstância de violação de direitos tão drásticas. Mas nada é mais tocante, profundo, revoltante, estimulante, inquietante que a fala de uma delas:
"Eu sou feliz. Pra os homens eu não tenho valor nenhum, eu sou nada, mas pra Jesus eu tenho valor".

Paft! Bem no meio da minha cara.
Que cristã sou eu? Que feminista sou eu? Porque tenho me contentado em fazer tão pouco?
Eu que prometi defender a dignidade humana ainda finjo que isso não é problema não?

Tem uma semana que O canto das raspadeiras de mandioca da Bacia do Goitá têm me tirado o sono.

1 !:

LUCI ALVES disse...

Esse teu inconformismo mexe comigo. Sério!

Ailma Barros,
mais de mil perguntas sem resposta, muito prazer!

 
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