19.12.12

Alô, alô Pernambuco, aquele abraço!


O que eu preciso fazer é cuidar
 para que de modo algum eu participe das misérias que condeno
 |David Henry Thoreau|



E lá se vão doze meses trabalhando pelas crianças de meu Pernambuco. E a sensação é muito boa. Me fez esquecer mestrado e outras feridas narcísicas. Me tornou mais humana - menos fulana, sicrana e beltrana.  Me fez ficar mais gente, mais atenta ao outro. Mais atenta aos pequenos. Mais feliz com coisas miúdas e simples. Essa semana entrei numa livraria  e fiquei numa felicidade tão boba só de ver os livros. E os livros infantis!! Fiquei mais perto de gente boa, gente de luta que sacode a poeira e não foge da luta. Gente linda como Senhora (sim é o nome dela!), uma moça fantástica que só agora depois de adulta está aprendendo a ler, mas briga com a desenvoltura de um diplomata quando se trata de garantir os direitos à terra e a identidade em sua comunidade quilombola. E os índios em Kambiwá? E as mães espalhadas por esse sertão tão seco de meu Pernambuco? Conheci gente gente. Que pronuncia incorretamente as palavras, mas que prende a atenção com o olhar, a força dos braços, as marcas no corpo atestando que há severinos por essas bandas. Crianças severinas. Que bebem água em açudes lamacentos. Que sorriem apesar da seca e da falta de perspectiva, que nos acolhem e nos escolhem como da família, da comunidade, da luta.
Acho que esses são os melhores trabalhos, os que te permitem pensar o tempo todo a sua condição de humano. Lutar por uma vida mais digna para as crianças não é só uma honra, é também uma lição diária.
Para todos vocês que me ensinaram a ser uma psicóloga melhor, queria dizer:

Há-braços de minha parte.
Da luta não me retiro.

Ailma Barros,
mais de mil perguntas sem resposta, muito prazer!

 
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