21.6.11

coca cola


e ela entrou na cantina da faculdade rindo com os amigos. E lá estava ele. Blaśe. No auge de sua típica indiferença. E ela lembrou que o que mais gostava nele era o seu ar de alma antiga, cansada de tudo. Primeira reação? Se controlar! Mas como? Em algum lugar as dopaminas e serotoninas festejavam em seu sistema nervoso. E as mãos não paravam de suar. E as borboletas mortas em seu estômago ressucitaram. "Seja indiferente". Ela repetia pra si mesma. Dopamina. Serotonina. Aquele orgão ressecado no lado esquerdo do tórax dava pequenos impulsos involuntários. Não parecia que aquelas sensações estavam adormecidas há um ano! Pediu uma coca cola. Esqueceu que tinha fome. Os risos irônicos com os amigos foram substituidos pelo riso bobo e involuntário de uma afetação que sobreviveu ao tempo e ao silêncio. O silêncio sempre foi um amigo e inimigo dessa coisa que existia, mas ela não sabia explicar o que era. Seria amor? Acho que não já que esse é sempre forte e deixa as pessoas melhores e só ocorrem quando os dois sentem. Aquilo não era amor. Nem ela sabia o que era. Mas gostava mais daquilo que do amor. Acho que ela nunca amou. Era covarde e egoísta demais para sentir essas coisas altas, nobres e belas. Desejo? Mas esse não é patológico e conflituoso? Aquilo não era desejo. Nunca trouxe angústias para ela. Sempre foi uma alegria pequenina e leve. Sua estrutura sempre foi de uma bolha de sabão. Ele ficou olhando-a sem parar. Riu. E junto com ele todo o universo disse um grande sim pra ela. Alegria. Isso sim! Aquilo era alegria. A genuína e boboca alegria que nos pega de surpresa, deixa tudo com cara de filme francês e que logo esquecemos no dia seguinte.

Ailma Barros,
mais de mil perguntas sem resposta, muito prazer!

 
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