21.12.10

tudo que queremos é a alegria confusa do amor.


Você ainda lembra da primeira vez que o viu, e não esquece do quanto você o odiou. Mas ele merecia seu ódio. Nunca ninguém te tratou com tanto desprezo. Aquele andar superior, aquele jeito de olhar as pessoas de cima, aquele ar de última espécie evoluida em meio ao caos. Tudo isso sempre mexeu com você. Primeiro foi ódio, depois você não conseguia mais nominar a sensação que ele te causava, mas era uma sensação estranhamente boa e boba. Borboletas no estômago, formigamento nas mãos. E os seus olhos? Estavam sempre a procura dele, e quando ocorria o encontro dos seus olhares. Uh! Rubor! Suor frio e aquilo era estramente bom.
Ele começou a te olhar. Olhar mesmo! Não você não estava delirando. Ele olhava pra você. Só pra você.Quando você passava, os amigos dele começavam a cochichar e dar risinhos na direção dele (como as suas amigas faziam também!). Ele fazia de tudo pra ficar no seu campo visual. E teve aquela única festa que você foi e ele não tirou o olho de você a noite toda.
E nessa estranha e boba rotina três anos se passaram. E tudo ficou apenas no olhar. Durante esse tempo você imaginou como ultrapassaria a barreira que separavam vocês. Mas a sua corvadia sempre impedia.
Você não sabia, mas hoje foi a última vez que você o viu, que vocês trocaram aquela olhar. Amanhã ele volta pra Itália. Se você soubesse que era a última vez, talvez você chegasse nele e falasse das palpitações e das borboletas no estômago, talvez ele até te abraçasse (e como você queria um abraço dele!).
Talvez não.
Algumas das relações mais intensas são aquelas onde palavras não são trocadas, contratos não são feitos e promessas não são juradas. Talvez as relações mais fortes são as que se sustentam no olhar, e não começam nem acabam. De certa forma, são eternas.
Você vai sentir falta do olhar torto dele pra você, o olhar que era só seu.
E nada vai ser como antes.
Nunca é.


Ailma Barros,
mais de mil perguntas sem resposta, muito prazer!

 
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